terça-feira, 15 de abril de 2014

DENTRO DO PAPEL


Ela precisava escrever para ser ouvida,
dentro do papel era totalmente desinibida,
era uma, era duas, era um,
era quem quisesse ser.

Escrever tornou-se vicio,
e como qualquer viciado,
ela já não suportava a realidade,
queria estar relaxada,
queria ser feliz,
mas pobre infeliz,
só era feliz ao escrever.

Certo dia, ela criou uma nova realidade
para si mesma,
descreveu no papel sua cidade,
destacou as paisagens,
melhorou os personagens,
detalhou os bons corações,
ignorou os defeitos,
e decidiu não escreve-los.

Entrou para dentro do papel
e não saiu mais,
era plenamente feliz por dentro,
enquanto definhava no mundo real. 

Morreu lentamente, 
fazendo só o que gostava,
alguns poderiam até, 
dizer que ela não teve uma morte triste, 
e sim uma morte feliz.

Morreu a carne 
mas sua alma continuou viva dentro do papel
que virou livro,
que criou vida,
que passou nas mãos de milhões de pessoas,
e décadas depois ainda estava intacta,
vivendo em uma estante, 
apenas esperando que seu novo mundo fosse aberto de novo,
para ela viver novamente. 

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