segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

CAFÉ A DOIS


Levantei cedo aquela manhã. Coloquei Razão e Sensibilidade em baixo do braço e fui até a cafeteria do outro lado do prédio onde moro. A cafeteria da esquina é o meu lugar preferido no mundo. Todos os dias eu tomo um delicioso café enquanto leio meus livros e fumo alguns cigarros. Gosto da grande placa de neon que anuncia "La Esquina Café", das paredes rústicas de pedra com quadros de grandes cantores e discos de vinil pendurados pelo local. Sento-me na mesma mesa de canto toda manhã. Ela fica ao lado da grande janela, no ambiente para fumantes. Eu vejo como ambiente para apreciadores da natureza, com uma vista incrível para o jardim de inverno da Sra. Dolce, a proprietária e garçonete do La Esquina Café. 
 – Bom dia Sofie, o que vai querer?  – Disse Dolce com um grande sorriso estampado.
 – Bom dia Sra. Dolce. O mesmo de sempre, me surpreenda, por favor.  – Respondi enquanto abria meu livro sobre a mesa.
 – Pode deixar querida, surpreender é minha especialidade.  

Havia poucos clientes, cinco no máximo, como de costume. A antiga vitrola tocava Dream A Little Dream Of Me de Louis Armstrong e eu tragava meu cigarro enquanto esperava meu café. Logo Carrie, a filha mais jovem de Dolce me trouxe uma xícara de irish coffee grande. Uma espécie de expresso com Uísque e eu agradeci. Dolce era uma mulher incrível de fato, tratava seus clientes com muita cortesia e atenção. Sempre sabia do que o cliente precisava e era teimosa quando um cliente pedia o que não precisava, lhe trazendo o que seu coração necessitava. Seus sentidos nunca estavam errados. 

– Aqui esta seu especial senhorita. Negro como o diabo, quente como inferno, puro como um anjo e doce como o amor. Minha mãe mandou lhe dizer que as vezes é necessário beber antes de comer algo pela manhã. 
– Obrigado Carrie, agradeça a Sra. Dolce por mim. 

Observei a xícara quente levantar fumaça, adicionei colheres de chantilly e mexi o café devagar. Medi minha vida em colheres de açúcar e adocei minha xícara de vida. Comecei a ler um novo capitulo do livro.  

O sino de clientes em cima da porta tocou e um homem apressado entrou sentando-se a duas mesas de distância de mim. Após perder a atenção com o sino, retomei a leitura. Ele falava alto demais e pude ouvir bem ele pedindo um pequeno expresso para Dolce que sorrio e foi para a cozinha. Desviei os olhos do livro novamente e observei o homem sentado, lendo o jornal. Ele tinha cabelos escuros e pele clara, usava um gorro e um casaco de couro, mas o que chamou minha atenção foi a pasta formal que ele carregava. Talvez fosse um jovem indo para uma entrevista de emprego. Um jovem que não sabia como se vestir para uma entrevista, imaginei.  

– Aqui esta seu café expresso Sr... – Dolce falou enquanto colocava a xícara na mesa. 
– Vincent, por favor, me chame de Vincent.   – O homem respondeu sem tirar os olhos do jornal. 
– O senhor nunca dá risada antes do seu primeiro café não é mesmo? – Ela o encarou com um olhar gentil.
– A senhora acertou, primeiro o café, depois o dia começa. Mas achei que iria me trazer algo revolucionário, todos dizem que a senhora surpreende seus clientes com o que eles precisam. – Ele falou um pouco desanimado. 
– Sim, dou aos meus clientes o que eles precisam e com o senhor não foi diferente. O expresso é a bebida favorita do mundo civilizado e o senhor... Vincent, é um futuro homem de negócios, imagino que queira se adaptar a vida de executivo o quanto antes. Enfim, deixarei o senhor em paz e espero que tenha gostado do La Esquina Café. – Ela disse ao homem com ternura no olhar e saiu para atender os demais clientes. 

Observei ele cuidar a saída da Sra. Dolce com o queixo caído literalmente e dei uma pequena risada. Ele se virou e olhou para minha mesa. Minhas bochechas brancas cheias de sardas ficaram extremamente vermelhas, desviei o olhar e tomei um gole do meu café desejando desaparecer da cafeteria. Foi então que ele deu uma gargalhada escandalosa.

– Você tem algum problema? Do que esta rindo? – Sussurrei séria encarando o homem. 
– Você esta com um bigode de chantilly moça, me desculpe, sei que não devo rir da senhorita, mas não contive o riso. – Ele respondeu com ar de deboche.
– Passei o antebraço sobre a boca como se fosse uma criança limpando os lábios sujos – Obrigada por avisar e me desculpe ter sido tão mal educada. – Falei envergonhada e hipnotizada por aqueles olhos castanhos tão profundos. 
– Tudo bem, começamos com o pé esquerdo e você rindo da minha tolice também não ajudou muito. Prazer me chamo Vincent.

Notei como ele estava curvado sobre a mesa cochichando para mim e eu para ele a duas mesas de distancia. Dolce observava atentamente a cena por trás do caixa e pude perceber que ela acenou com a cabeça para mim. Voltei a olhar para ele e respondi. 

– Muito prazer, Eu sou a Sofie. 

CONTINUA.... 

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