sexta-feira, 29 de novembro de 2013

SOZINHA NA CALÇADA



Uma das coisas que eu adoro é poder caminhar na volta do meu trabalho. Eu preciso andar algumas quadras até o ponto de ônibus e encaro essa caminhada como uma das partes mais bacanas do meu dia. Você deve estar se perguntando qual é a graça de caminhar para pegar ônibus, no horário de pique em Porto Alegre. 


E eu lhes digo que a graça é estar comigo mesma, sozinha. Sozinha eu não preciso agradar ninguém, nem sinto tanta vergonha dos meus quase tombos no caminho. Gosto de apreciar o vento no fim da tarde, o aroma de café e pães frescos que saem das padarias, a movimentação nos bares de esquina com uma placa bem grande com a promoção de Chopp e ver executivos e amigos rindo e descansando após um dia exaustivo de trabalho. Adoro cumprimentar as pessoas na rua mesmo que isso me torne um pouquinho maluca, ora quem costuma cumprimentar estranhos? Eu. Admiro as pessoas na rua e as crianças que estão aprendendo a caminhar, essas pequeninas me tiram sorrisos bobos. Como certa vez em que passei por uma vó com seus dois netinhos, um casalzinho, talvez fossem gêmeos com 11 meses, um ano, um ano e meio no máximo. A garotinha estava com uma minissaia rodada e sem blusa, afinal não tinha o que mostrar e o calor estava insuportável. Foi quando um pai com seu filho, do mesmo tamanho e suponho que a mesma idade, passou na frente da doce vovó e seus netos e o garotinho virou para trás olhando abismado, porque a garotinha estava sem blusa como se aquilo não fosse certo. Pensei com meus botões, esse garotinho é esperto demais, e se não é, vai ser muito ligeiro quando crescer. Mas foi uma cena deliciosa, cheia de alegria e que certamente eu perderia se não estivesse sozinha. Gosto de caminhar lentamente, e muitas vezes isso incomoda certos acompanhantes de caminhada, pessoas essas que não reparam nas árvores ao redor, não veem o broxar das flores depois de uma bela floração, reclamam do calor abafado ao invés de agradecer por poder ser tocada pelo calor, não admiram o céu no fim de tarde e que não conseguem se deliciar com a simplicidade das coisas. Pessoas essas, mais sozinhas do que eu.

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